11/04/2023

Isabella Abreu

"Como posso ser mais feliz?" É provável que em algum momento da vida você já tenha feito esse questionamento. Para te ajudar nesta tarefa, conversamos com especialistas que dedicam suas carreiras a estudar o tema felicidade. A seguir, eles dividem suas descobertas e quais hábitos diários que mantêm para se sentirem mais felizes.

O que é felicidade?

O significado de felicidade é, até certo ponto, subjetivo, e cada um tem uma visão sobre ela:

  • Felicidade é o resultado de pequenas ações e acontecimentos do dia a dia que geram prazer e ânimo para viver, segundo Arthur Guerra, psiquiatra e coautor do livro "Você Aguenta Ser Feliz?".
  • É a capacidade de estar em harmonia consigo mesmo. "É aceitar a vida amplamente, com todas as suas nuances, os altos e baixos, dores e prazeres", diz Rossandro Klinjey, psicólogo e autor de "Eu Escolho Ser Feliz".
  • São experiências de prazer e propósito ao longo do tempo. É importante entender que ela vem da jornada, da caminhada, e não de um momento raro e extraordinário. "Tem a ver como uma construção e não com a vida idealizada", diz Renata Rivetti, fundadora da consultoria Reconnect - Happiness at Work.

Fases negativas fazem parte

Momentos negativos são inevitáveis e, inclusive, são importantes para uma vida feliz. Gabriele Oettingen, cientista da NYU, demonstra em seus estudos que momentos negativos nos motivam e ajudam com que coloquemos nossos planos em execução, enquanto a ilusão de que "pensar positivo faz o universo conspirar a nosso favor" faz com que as pessoas percam sua motivação, não agindo para realizar seus objetivos.

Em uma das demonstrações mais impactantes, ela pediu para um grupo de pessoas pensarem que iriam encontrar um emprego, enquanto outro grupo pensava positivo e negativo. O grupo que pensou positivo e negativo, o que a cientista nomeia como "contraste mental", mandou mais currículos e conseguiu empregos em maior quantidade do que o grupo que apenas pensou positivo.

Neste mesmo sentido, uma pesquisa desenvolvida por Barbara Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte, descobriu que pessoas que alcançavam uma proporção de três emoções positivas para cada negativa durante suas semanas tinham mais bem-estar e sucesso do que as que atingiam uma proporção menor —o que ficou conhecido como "a proporção da positividade".

"Já que emoções negativas são inevitáveis, o esforço das pessoas deve estar em construir emoções positivas, ou seja, assumir a responsabilidade por sua própria felicidade", diz Luiz Gaziri, autor dos livros "A Ciência da Felicidade" e "Os Sete Princípios da Felicidade".

Felicidade na prática

  • Faça um diário de gratidão

Registre, ao fim de cada dia, três acontecimentos positivos. "Algo que faço rotineiramente é agradecer por aquilo que hoje é uma realidade, mas já foi conquista e um dia foi sonho, como ter um lugar para morar e poder viajar. É um mecanismo de manter o encantamento e o valor do que nos cerca", conta Rossandro Klinjey.

Para Vanessa Rodrigues, professora da disciplina felicidade na Unicamp, escrever diariamente sobre coisas pelas quais somos gratos nos faz valorizar o tempo presente, diminui a ansiedade, melhora o humor e a qualidade do sono e nos alerta para algo fundamental: reconhecer que temos motivos para sermos felizes no agora, e não apenas no futuro, como costuma acontecer.

  • Foque no presente

Construir um bom estado de presença é fundamental para que possamos saborear os pequenos prazeres da vida, mas não é só isso. "Quando estamos presentes, fazemos escolhas melhores, reclamamos menos e temos a tendência de ver mais o positivo do que o negativo das situações. Práticas de mindfulness, respiração e meditação são muito úteis, mas a verdade é que qualquer atividade serve para essa prática, basta você concentrar sua atenção no que está fazendo no momento", recomenda Gustavo Arns, idealizador do Congresso da Felicidade, que neste ano terá sua 6º edição.

A vida idealizada é uma das maiores inimigas da felicidade, visto que raramente se concretiza. Mais seguro é partir do pensamento filosófico de Santo Agostinho, para quem a felicidade era seguir desejando aquilo que já se possui. Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência

A vida idealizada é uma das maiores inimigas da felicidade, visto que raramente se concretiza. Mais seguro é partir do pensamento filosófico de Santo Agostinho, para quem a felicidade era seguir desejando aquilo que já se possui. Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência

  • Tenha um "kit de primeiros socorros" das emoções positivas

Carla Furtado defende que cada pessoa deve ter em seu "kit de primeiros socorros", uma atividade capaz de fomentar emoções positivas. Para ela, essa atividade é cozinhar. "É um exercício de criatividade que me desacelera e estimula a conexão, porque bom mesmo é alimentar quem a gente ama", afirma.

  • Faça outras pessoas felizes

A propósito, fazer outras pessoas felizes é o que traz satisfação para Luiz Gaziri. "Uma das formas mais fáceis de ter emoções positivas é interagir com estranhos. Por isso, saio puxando papo com caixas de mercado, frentistas de posto, funcionários do clube que frequento, motoristas de Uber e recepcionistas de hotel, em todas as minhas andanças palestrando pelo Brasil. Tento fazer todo mundo que passa pelo meu dia expressar um sorriso e se sentir valorizado", relata.

Não é à toa que uma unanimidade entre os cientistas é a de que os relacionamentos são o maior preditor de felicidade. Por isso ficamos mais felizes quando ajudamos colegas no trabalho, expressamos nossa gratidão por quem nos apoia, interagimos com qualidade com nossos amigos e familiares e, inclusive, quando gastamos dinheiro com os outros. "Fazer as outras pessoas felizes é o que possibilita nossa felicidade individual", resume Gaziri.

  • Mantenha a saúde mental em ordem

Vale ainda ressalta que o principal alicerce para uma vida feliz é ter a saúde mental em ordem. "Cuidar da mente é como andar de bicicleta: exige esforço e movimento constante, senão ela tomba. Em outras palavras, para viver bem, temos que trabalhar a nosso favor, sempre e sem parar", diz o psiquiatra Arthur Guerra.

Isso também é investir no autoconhecimento. "Sem ele, corremos atrás de ilusões que nos trazem ansiedade e frustração, nos deixando cada vez mais longe de uma felicidade profunda e duradoura", afirma Gustavo Arns.

Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/04/11/ferramentas-para-uma-vida-mais-feliz.htm