03/11/2021

Dr. Arthur Guerra

Não existe ninguém que não tenha passado por um turbilhão de emoções desde que a quarentena foi anunciada, no ano passado. Fomos pegos de surpresa, tivemos de nos habituar com termos até então restritos ao mundo da ciência como pandemia, lockdown, coronavírus, nos vimos impotentes, preocupados.

Com o prolongamento da crise e o pico de mortes no país, em maio de 2021, ou seja, mais de um ano depois de os casos de Covid-19 começarem a ser relatados no Brasil, veio a ansiedade, o pânico.

Agora, uma parcela das pessoas parece ter sido tomada pela irritação e até pela raiva. Eu me incluo nesse grupo. Outro dia, me peguei irritado com uma pessoa pela falta de flexibilidade dela. Por que estaríamos com raiva?

Raiva é uma das respostas ao trauma por que passamos. Essa é uma das possíveis explicações. Outra vem do cenário social e econômico difícil pelo qual o Brasil passa, com o aumento do desemprego, da fome, da informalidade, que traz a insegurança para o coração das famílias.

Será que essa montanha-russa de emoções se reflete também no ambiente de trabalho? Claro. Uma pesquisa recente feita no Brasil com líderes e liderados apontou que metade dos líderes (52%) se sentiu emocionalmente abalada com a pandemia. Esse percentual chegou a 60% entre os colaboradores. Entre os sentimentos mais presentes entre os líderes está o estresse e entre os liderados, o desânimo.

A sensação de falta de equilíbrio emocional é tão grande que, quando perguntados que soft skill eles mais desejam conquistar no pós-pandemia, calma ficou à frente de resiliência e de confiança, no caso da liderança, e à frente de liderança e de espírito empreendedor para os liderados.

Esses números mostram o quanto o controle emocional é uma competência vista como muito importante por quem trabalha, independentemente do nível hierárquico, e o quanto parece faltar no ambiente de trabalho.

Equilíbrio emocional, evidentemente, é algo fundamental dentro e fora do ambiente de trabalho; porém, na vida profissional, nos ajuda a ter mais adaptabilidade, o famoso jogo de cintura. Essa é, por exemplo, uma das competências que as organizações buscam em seus profissionais.

A calma e o controle emocional também ajudam a não deixar que situações adversas em casa afetem o trabalho e vice-versa. Como estão as suas emoções?

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

Fonte: forbes.com.br/colunas/2021/11/arthur-guerra-o-que-a-pandemia-nos-diz-a-respeito-da-nossa-saude-emocional-no-trabalho