30/05/2023

Arthur Guerra

No começo do século 20, pelos idos de 1910/20, ainda não havia nenhum tipo de remédio para ajudar pessoas que conviviam com transtornos mentais. Os medicamentos só começaram a surgir em torno dos anos 1950. No Brasil, apesar de essas drogas já estarem no mercado, ainda vimos, até os anos 1960/70, muitas tentativas e erros no campo da Psiquiatria. Os médicos queriam tanto ajudar pacientes em sofrimento que tentavam de tudo. Um dos tratamentos usados era imersão em uma banheira de água gelada. Um paciente com um quadro de muita agitação, por exemplo, era colocado nessa tina, permanecia ali por um tempo e ia se acalmando.

Em 2017, um médico inglês escreveu um artigo para o British Medical Journal contando o caso de uma paciente sua que sofria com depressão e para quem ele receitou nadar em águas abertas geladas. No caso da Inglaterra, isso significava nadar em mar aberto com água em temperaturas próximas de 15 graus Celsius. Essa paciente penava há muitos anos e tinha um tipo de depressão resistente a medicamentos. Quatro meses após o início desse tratamento não convencional, a moça estava livre dos remédios e seus sintomas haviam parado.

Mais ou menos na mesma época, começou a ficar bastante comum entre a turma da corrida entrar em uma tina repleta de água e gelo após uma prova. Não só os atletas relatavam sair revigorados após uma corrida longa como diziam que o procedimento acelerava a regeneração muscular.

Pois não é que a coisa evoluiu e hoje várias empresas no mundo oferecem o mesmo tipo de procedimento, só que agora com o uso de gás em baixíssimas temperaturas e em uma câmera? A crioterapia (crio vem da palavra frio) já é usada há um bom tempo para aliviar processos inflamatórios e dor, por exemplo, em casos de artrite. Os resultados têm sido bem animadores.

Só que mais recentemente começou-se a estudar o seu uso em casos de ansiedade e depressão. Alguns estudos poloneses estão mostrando que a crioterapia é capaz induzir um relaxamento corporal, melhora do vigor e da energia e até do humor.

Agora, vários grupos no mundo vêm procurando evidências de se a terapia com baixíssimas temperaturas pode servir como tratamento coadjuvante para alguns transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Quem sabe possa trazer notícias promissoras daqui a alguns anos?

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

Fonte: https://forbes.com.br/forbessaude/2023/05/arthur-guerra-crioterapia-pode-ajudar-a-melhorar-a-saude-mental/