10/12/2018

Eu sou apenas o que sou. Eu sou um moço-velho, que já viveu muito, que já sofreu tudo e já morreu cedo. Eu sou um velho-moço, que não viveu cedo, que não sofreu muito e não morreu tudo. Eu sou alguém livre, não sou escravo e nunca fui senhor. Eu simplesmente sou um homem que ainda crê no amor. Do CD "Aos Mestres, com carinho", de Silvio César.


O tema foi motivo em 2007 de edição especial da Revista de Psiquiatria Clinica, USP. Agora em 2008 retorna, volume 35. Suplemento 1. Nova edição especial - Álcool & Drogas - tendo como editor convidado o professor doutor Arthur Guerra de Andrade. (7). No seu editorial "A importância do conhecimento científico no combate ao uso nocivo de tabaco, álcool e drogas ilícitas ", o editor afirma que "o consumo indevido de drogas lícitas e ilícitas é um sério problema de saúde pública que atinge de forma preocupante todos os países do mundo. Estima-se que entre os anos de 2005 e 2006, aproximadamente 200 milhões de indivíduos tenham consumido drogas ilícitas. Em relação às substâncias lícitas, a situação não é menos preocupante: o consumo prejudicial de álcool é responsável por quase 4% de todas as mortes no mundo, sendo a principal causa de morte e invalidez nos países em desenvolvimento que apresentam baixa taxa de mortalidade e o terceiro principal fator de risco para a saúde, após o tabaco e a hipertensão arterial sistêmica, em países em desenvolvimento. No mundo há, por sua vez, 1,3 bilhão de indivíduos que utilizam tabaco e essa substância responde por 4,1% da carga global de doenças, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)."

"Além de enfermidades e mortes, o consumo de drogas associa-se a uma série de problemas psicológicos e sociais, estando os jovens situados no grupo de maior risco para o uso experimental e possível abuso de substâncias, especialmente o álcool, o tabaco e a maconha. Entre as possíveis conseqüências negativas, podemos mencionar desintegração familiar, depressão, violência e acidentes de trânsito. Diante desse quadro, continua o professor, "é fundamental o investimento no tripé prevenção: educação, controle e tratamento. Todas as ações ainda devem estar embasadas em evidências científicas que poderão auxiliar na compreensão da prevalência dos problemas causados pelo uso indevido de substâncias e contribuirão para a identificação das melhores estratégias de prevenção e tratamento".

No inicio do ano, tivemos o Seminário sobre Drogas no Movimento de Amor ao Próximo (MAP) no Rio de Janeiro. As fotos estão no site, http://www.map.org.br/, assim como o convite para outro Seminário que será realizado em 7 de setembro, agora com alguns autores do livro que deverá ser relançado - http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.15.htm.

O dia 7 de setembro é especial para os brasileiros, mas 29 de agosto, para os espíritas. Neste dia nasceu, em 1831, Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, em Freguesia do Riacho do Sangue (CE). Conhecido como o "Médico dos Pobres" escreveu "A Loucura Sob um Novo Prisma".

O filme "Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírito" foi lançado no circuito de cinemas de 40 cidades brasileiras. Depois de conhecer a Doutrina dos Espíritos que o doutor Bezerra passou a ver com outros olhos os casos diagnosticados como doença mental. Enquanto escrevia, minha filha me telefonou dizendo que não conseguiu comprar entradas. Todos os lugares no cinema estavam ocupados. Que bom, pensei comigo. Muitos vão conhecer o médico brasileiro através do cinema.

Lemos na Revista de Psiquiatria Clínica um prefácio com o título: Religião, Espiritualidade e Psiquiatria: Uma Nova Era na Atenção à Saúde Mental. (1)

A palavra religião pode trazer aos desavisados algum desconforto, uma vez que produz desconfiança. "religiosos" se tornaram materialistas. No entanto, apesar do discurso dos que mercadejam a mediunidade para levantar grandes fortunas e apesar também dos líderes que perseguem cargos, posições e títulos, a religião pode oferecer grande contribuição à área de saúde, não só mental.

Naquela época em que o adepto podia parar na delegacia, doutor Bezerra foi destemido diante do preconceito.

No prefácio da Revista de Psiquiatria, escrito pelo professor da Universidade de Duke (1), podemos verificar números. Uma pesquisa on-line na PsycINFO, uma base de dados que contém 2,3 milhões de pesquisas e artigos acadêmicos de 49 países em 27 idiomas, usando as palavras-chave "religion", "religiosity", "religious beliefs" e "spirituality", revela algumas tendências interessantes.

Quando o professor restringiu os anos da busca de 1971 a 1975, foram identificados 1.113 artigos, mas ao repetir a pesquisa restringindo-a aos anos entre 2001 e 2005, obteve 6.437 artigos, havendo um aumento de mais de 600% em 30 anos. Assim, parece ocorrer um rápido incremento na pesquisa e discussão acadêmicas relacionadas à relação entre religião, espiritualidade e saúde mental.

O médico Arthur Conan Doyle, criador da série Sherlock Holmes, escreveu no livro "A História do Espiritismo" que: "os homens de ciência se dividem em classes, há os que absolutamente não examinaram o assunto - o que não os impede de pronunciar opiniões muito violentas." (2)

O Brasil é um país de contrastes. Cientistas podem ocupar lugar de destaque e serem absolutamente ignorantes em relação a religiosidade. Na universidade ainda encontramos o preconceito. Alguns professores bem informados procuram diminuir distâncias.

Vamos a um exemplo: publicação britânica destaca papel da Unicamp na Inovação. "O desempenho da Unicamp na geração de patentes é um dos destaques do livro Brazil: the natural knowledge economy, que acaba de ser publicado pela editora britânica Demos. O trabalho faz parte do Atlas de Idéias, um programa que pretende mapear a nova geografia da ciência e da inovação no planeta. A Unicamp tem mais patentes requeridas do que qualquer outra universidade brasileira, escreveu a pesquisadora britânica, observando que 40% delas foram produzidas na área de química." (3)

Por outro lado, é de um professor da Unicamp o artigo que fala da "Excelência Metodológica do Espiritismo" (4). Doutrina que surgiu a partir da pesquisa sistemática, que afirma que o homem é um ser de natureza bio-psico-socio-espiritual.

O Supremo Tribunal Federal está diante dos fetos anencéfalos. Alguns ministros desconhecem as leis do plano espiritual, o que poderá levar a tomar decisão geradora de prejuízo aos espíritos que reencarnarem para viver alguns momentos. Alguns nem desconfiam da finalidade desse tipo de experiência.

Muitos fetos nesta condição podem não possuir alma, mas outros há que nascem e respiram. Será que minutos na carne podem ser de grande valia perispiritual? Doutores em ciências jurídicas podem ser hipossuficientes nas espirituais.

André Luiz, pela psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, no capítulo "Assistência Fraternal", do livro Libertação, edição da Federação Espírita Brasileira, nos informa que a hipossuficiência é encontrada mesmo em espíritos já libertos do corpo: "na maior parte dos presentes não surgia o mais leve traço de compreensão da espiritualidade. Raciocínios e sentimentos jaziam presos ao chão terrestre, vinculados a interesses e paixões, angustias e desencantos".

Em Religião, Espiritualidade e Psiquiatria: Uma Nova Era na Atenção à Saúde Mental.(1) o professor Koenig diz que "muitos dos primeiros hospitais destinados ao cuidado de pessoas com doenças mentais foram organizados por monges e sacerdotes. O tratamento moral tornou-se o tipo dominante de cuidado psiquiátrico nos Estados Unidos e Europa no começo do século dezenove. Entretanto, este cenário mudou no início do século vinte com os escritos de Sigmund Freud na psiquiatria e de G. Stanley Hall na psicologia. Esses autores acreditavam que religião gerava neurose e que teorias psicológicas iriam substituir as religiões como propiciadoras de visão de mundo e fonte de tratamento. Tais atitudes negativas em relação à religião não eram baseadas em pesquisas científicas, mas primordialmente nas crenças e opiniões pessoais desses pioneiros.

Como conseqüência, durante a maior parte do século vinte, o campo dos cuidados à saúde mental subestimou e freqüentemente desqualificou as crenças e práticas religiosas dos pacientes. Tais posturas estão refletidas em textos fortemente anti-religiosos escritos ainda nas décadas de 1980 e 1990."

E, continua, "contudo, mudanças começaram a ocorrer na área da saúde mental na década de 1990 e na virada para o século vinte e um. Investigações sistemáticas passaram a demonstrar que pessoas religiosas não eram sempre neuróticas ou instáveis e que indivíduos com fé religiosa profunda, na realidade pareciam lidar melhor com estresses da vida, recuperar-se mais rapidamente de depressão e apresentar menos ansiedade e outras emoções negativas que as pessoas menos religiosas. Além disso, esses achados provinham não apenas de grupos de pesquisadores dos Estados Unidos, mas também de cientistas no Canadá, Grã-Bretanha, Irlanda, Espanha, Suíça, Alemanha, Holanda, outras áreas da Europa, Tailândia, Austrália, Nigéria, Egito, Oriente Médio e Índia."

O que se encontra sobre a religiosidade, a espiritualidade e o consumo de drogas?

A Revista de Psiquiatria, no seu suplemento de 2007 (2), com Sanches, Z.M. & Nappo, S.A., nos informa que a "religiosidade e a espiritualidade vêm sendo claramente identificadas como fatores protetores ao consumo de drogas em diversos níveis. Eles nos dizem que, além disso, os dependentes de drogas apresentam melhores índices de recuperação quando seu tratamento é permeado por uma abordagem espiritual, de qualquer origem, quando comparados a dependentes que são tratados exclusivamente por meio médico." Concluem que "devido ao forte papel de assistência social das religiões no Brasil, a exploração deste tema no contexto brasileiro seria de grande relevância para a saúde pública."

Koenig, o professor da Universidade de Duke, diz ainda que "as pesquisas em populações saudáveis sugere que as crenças e práticas religiosas estão associadas com maior bem-estar, melhor saúde mental e um enfrentamento mais exitoso de situações estressantes. Essas associações entre religiosidade e melhor saúde mental são encontradas de modo marcante em situações de alto estresse."

Em tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina - para obtenção do título de Doutor em Ciências. 2006, a pós-graduanda Zila Sanches, estudou as práticas religiosas atuando na recuperação de dependentes de drogas. Utilizou de método qualitativo, empregando técnicas de entrevistas semi-estruturadas e observação participante.

Visitou 21 instituições religiosas dos segmentos católico, protestante e espírita, nas quais foram contatados informantes que permitiram a entrada e acesso à cultura e a 85 ex-usuários de drogas que foram entrevistados em profundidade.

A doutoranda observou que a crise é o maior motivo de busca de tratamento, nos três grupos, sendo representada pela perda de família, emprego e sujeição a fortes humilhações.

Nas suas conclusões afirma que "o tratamento religioso para dependência de drogas ganha espaço na saúde pública brasileira e compartilha responsabilidade com o serviço de saúde convencional. Tais intervenções são consideradas eficazes pelos indivíduos submetidos a elas e despertam a atenção destes pela forma humana e respeitosa pela qual são tratados."

A doutoranda conclui ainda que "a maior potencialidade destes tratamentos está no suporte social do grupo que os recebe, no acolhimento imediato e sem julgamentos. O que mostra que o sucesso destas ações não se esgota num possível aspecto sobrenatural, como se poderia supor, mas sim, em especial, na dedicação incondicional do ser humano por seu semelhante."

Chamo a atenção que embora o sucesso destas ações possa não se esgotar num possível aspecto chamado de "sobrenatural", certamente a intervenção dos benfeitores espirituais é grandemente facilitada diante da generosidade inerente ao ser humano espiritualizado, como foi exposto no artigo - Ciência, Filosofia Científica, Espiritismo e NEU (6).

O livro que será relançado no Seminário do MAP examina mensagens de Joanna de Ângelis, psicografadas pelo médium Divaldo Pereira Franco, fazendo breves comentários e trazendo também alguns depoimentos. Ele não traz o relato daqueles que participaram da equipe de apoio fraterno. No entanto, a experiência de dois anos após a criação do Serviço de atendimento a usuários de drogas em ambulatório do Instituto de Psiquiatria da UFRJ "se apresentou como uma experiência rica em trocas com relação ao desenvolvimento do trabalho em equipe, assim como pela busca de reposicionamentos e conseqüente bem-estar para os pacientes."(5)

Os centros espíritas já estão conscientes de que podemos ajudar pessoas a se libertarem da escravidão a que se submeteram. No livro "Libertação" vemos que a liberdade é possível. No capítulo "Reencontro" aprendemos que "a prece ajuda, a esperança balsamiza, a fé sustenta, o entusiasmo revigora, o ideal ilumina, mas o esforço próprio na direção do bem é a alma da realização esperada."

Espíritos fragilizados são prejudicados pela dúvida. Emmanuel, no livro Fonte Viva, adverte: "Não Duvides". Você que procurou o auxílio do Centro Espírita, não duvide do tratamento espiritual, do auxílio generoso. "Em teus atos de fé e esperança, não permita que a dúvida se interponha, como sombra, entre a sua necessidade e o poder do Senhor. A hesitação no mundo íntimo é o dissolvente de nossas melhores energias. Quem duvida de si próprio perturba o auxílio em si mesmo. Ninguém pode ajudar aquele que se desajuda."

Comecemos nesta hora. Vamos permanecer libertos só por hoje. "Abandonemos a pressa e olvidemos o desânimo. Vale trabalhar e fazer o melhor que pudermos, aqui e agora, porque a vida se incumbe de trazer-nos aquilo que buscamos."

"Avançar sem vacilações, amando, aprendendo e servindo infatigavelmente - eis a fórmula de caminhar com êxito, ao encontro da nossa Vitória."

Avancemos para a libertação. No livro, mãe e filho se abraçam. Ele diz depois de tenebroso inverno. "Mãe! Minha mãe! Minha mãe!... Matilde enlaçou-o e exclamou: - Meu filho! Deus te abençoe! Quero-te mais que nunca!"
"Verifica-se, ali, naquele abraço, espantoso choque entre a luz e a treva, e a treva não resistiu..."

Notas:
(1)http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.8.htm
(2)http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.17.htm
(3)http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/2008/08/08/publicacao-britanica-destaca-papel-da-unicamp-na-inovacao
(4)http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482/exemet.html
(5)Cruz, M.S. et al. Inform. Psiq., 18 (1): 17-22, 1999.
(6)http://www.cesevilla.divulgacion.org/modules.php?name=News&file=article&sid=153
(7)http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/

LUIZ CARLOS FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado.

Fonte da notícia:
sinuhesilvavieira.blogspot.com/2018/12/dependentes-do-tabaco